Páginas da vida



Nesta cronica vou contar as varias páginas da minha vida .Vou começar com a minha infância, quando eu tinha 11 anos tive que emigrar para França, como o meu pai era emigrante, ele  queria a família perto dele, mas ainda não tinha casa para todos e resolveu vir buscar o meu irmão com 13 anos e a mim. Estava radiante com esta ida, pensava que a França era outro "mundo", as casas as pessoas, mas afinal era tudo igual, mas esta ida não foi assim tão simples.Nesta altura, a maioria das pessoas passavam de assalto as fronteira, uns a pé pelas montanhas, outras de comboio. Eu e o meu irmão fomos de comboio, mas sem bilhete!Nosso pai não podia tirar bilhetes, porque não tínhamos passaportes.A viagem corria as mil maravilhas, fartamos-nos de brincar, correr saltar, até que chega os revisores, sem eu e o meu irmão darmos conta. Um senhor que viajava connosco nos avisa.
    - Vem ai os guardas e os revisores.
A aflição era total, e regressamos ao nosso compartimento, viajavam cerca de 6 pessoas connosco, não sabendo o que fazer vimos que estava uma senhora com uma saia muito grande, e nós nos enfiamos de baixo da saia.
    -Meus senhores e minhas senhoras, bilhetes e passaportes, quantos estão? disse o revisor.O nervosismo tomava conta de nos, mas verificando os bilhetes e os passaportes, se foi embora, nos deixando um grande alivio por não sermos descobertos.
    Chegamos finalmente a França, fomos para Auberjenville, fica a cerca de 45 minutos de Paris e ficamos hospedados numa casa de familiares, nosso pai ainda não tinha casa própria, mas não foi assim tão fácil a adaptação.....

                                         
 A adaptação não foi nada fácil. a língua era totalmente diferente, os costumes, e não tinha nenhuma amiga, o único amigo era meu irmão que a maior parte das vezes estávamos zangados, as minhas amigas tinham ficado todas em Portugal. Na casa que estávamos, as pessoas eram simpáticas, mas não tínhamos nenhum á vontade devido á casa não ser nossa e o nosso pai fazia questão de nós lembrar: "Meninos muito cuidado a casa não é nossa".
O tempo foi passando e claro tivemos que ir para a escola, como eu e o meu irmão ainda não dominávamos a língua francesa tivemos que ir para o primeiro ano!, sim é verdade novamente no primeiro ano. Nós já éramos crescidos e os nossos colegas eram muito, muito pequeninos ao nosso lado, aquilo a nós só nos dava gozo voltar ao primeiro ano, mas foi muito importante para podemos comunicar e aprender bem o francês. As historias destes 3 meses que passamos no primeiro ano são mais que muitas e muito hilariantes, como nós já sabíamos a maior maior parte das matérias, nós ajudávamos os colegas  principalmente na matemática, a professora perguntava e eles claro não sabiam a maior parte das respostas, e escrevíamos nos nossos quadradinhos as respostas e claro a professora nos punha fora da sala e com umas boas réguadas e no fundo talvez bem merecidas. A professora já sabia a nossa manha e sempre que havia perguntas de matemática ficávamos de castigo. . .



    O nosso castigo era ir sempre para a rua, e durante aquele tempo da aula de matemática, não podíamos ir para a sala. Este tempo ali passado foi muito bom, para a aprendizagem da língua.
    Os dias foram passando e a adolescência foi terrível! Não me sentia feliz, o meu pai não me dava nenhuma liberdade para nada e tinha muitos ciumes de mim, não podia sair de casa a não ser para ir para a escola, não podia brincar na rua com os meus colegas, nunca mas nunca podia me ver com um rapaz e se quisesse estar com as amigas era em minha casa. Claro que para mim era muito desagradável, cheguei a ficar presa em casa, meu pai saía e trancava a porta por fora para eu não sair! Com cerca de 14 anos comecei a ver os rapazes com outros olhos e já tinha o meu primeiro namorado, sem o meu pai sonhar tal coisa claro. Para o poder ver tinha que inventar mil e uma coisa, ou era para levar o lixo á rua, ou era fazer algum trabalho em casa de uma colega etc...
    O namoro foi incrível mas sempre com muita aflição e cuidado para o meu pai não descobrir, até ao dia que ele descobriu! Levei tanta porrada nesse dia, que hoje ainda parece que doí! Mas não fui só eu, meu namorado também levou e muito. Os dias foram passando e aquilo ainda nos deu mais força para seguir em frente, agora com o dobro de cuidado. 
    Cada vez estava mais convencida que aquele era o homem da minha vida e então resolvi lhe dar um belo presente, a minha virgindade, eu estava com muito medo daquilo, mas ganhei coragem e disse-lhe. Ele tranquilizou-me e disse que o que tinha que acontecer ia acontecer e mais cedo ou mais tarde tudo acontece naturalmente, e foi. Um dia estávamos nas escadas do meu prédio e...


    Estávamos, eu e o meu namorado, nas escadas do meu prédio a conversar e beijo para aqui, beijo para ali, as coisas começaram a aquecer e o clima tomou conta de nós e eu senti que realmente seria ali que iria perder a minha virgindade. 
    Com muito beijo á mistura, começamos a tirar as nossas roupas um ao outro e ele com muito carinho comigo, bem sem entrar noutros pormenores, a coisa deu-se mesmo ali nas escadas do meu prédio, mas eu com aquilo tudo me senti muito envergonhada e com muitos complexos e fugi escadas acima não terminando o ato, abandonei mesmo ali o rapaz sem nenhuma explicação e fui para minha casa, pensando no que tinha acontecido. Pensei que ele nunca mais iria falar comigo por o ter deixado ali naqueles prantos, mas claro enganei-me. No dia seguinte encontramos-nos e ele foi muito carinhoso comigo e disse-me que era normal esta minha reacção e que não havia problema nenhum e que talvez com o tempo eu me habituasse. 
    Os dias foram passando e o clima foi sempre aquecendo, cada vez mais até que finalmente a coisa se deu de vez e que realmente a primeira vez fui um pouco estúpida em ter feito o que fiz. Os dias foram passando e se tornavam  meses e nós íamos-nos conhecendo cada vez melhor em todos os aspectos e a nossa intimidade era como já tivéssemos casados á muitos anos, era mesmo aquele homem que eu queria para marido, era a pessoa certa para ser o pai dos meus filhos, mas agora faltava dizer isso ao meu pai! Então resolvemos contar a verdade ao meu pai.
    Um dia eu estava na varanda de casa e ouvi um grande barulho . . . 


    Um dia eu estava na varanda de casa e ouvi um grande barulho, claro que o barulho despertou a atenção de várias pessoas que estavam nas redondezas. Como o barulho foi tão grande, apercebi-me que era perto o acidente, mas o que seria? Um embate de carros? Uma bomba? Com o decorrer dos minutos, a população corria para o local, e eu não poderia sair de casa meu pai não queria, então mesmo dali tive que perguntar o que se passava aos populares. A confusão era total e via-se muita gente a gritar e a correr para lá, as ambulâncias passavam e eu sem saber o que se passava. Passados alguns minutos, umas vizinhas minhas vinham do local e eu perguntei o que se passou, ao que me disseram que foi um acidente de um carro que embateu numa mota, do filho do Correia e que o rapaz, por o seu estado não iria sobreviver. Não sabendo de quem se tratava não pensei mais no assunto. 
    Os dias foram passando e o meu namoro corria muito bem, mas um dia fui ao supermercado comprar umas coisas para casa e ao sair um rapaz me abordou para me ajudar a levar os sacos, fiquei surpreendia com o ato mas ele me acompanhou até casa. Ao chegarmos á minha casa ele me surpreendeu com um beijo na boca e fugiu, fiquei bastante irritada com a situação mas também boquiaberta. Nos dias seguintes esse rapaz me seguiu, mas sempre com o meu desagrado, com tanta insistência revolvi ceder ás suas investidas. Como ainda namorava, este caso teria que ser sempre em segredo, mas com tantos encontros comecei a apaixonar-me pelo rapaz que se chamava António. Com a convivência vim a saber que este rapaz era o filho do Correia, grande coincidência! era o rapaz que teve o acidente perto da minha casa. Certo dia o meu namorado vê-me com o António numa esplanada......

     Com a convivência vim a saber que este rapaz era o filho do Correia, grande coincidência! era o rapaz que teve o acidente perto da minha casa. Certo dia o meu namorado vê-me com o António numa esplanada, sem nós darmos conta que ele estava por ali, trocamos caricias e muitos beijos. . .
     O meu atual namorado, sabia do acontecido, mas nunca mostrou que sabia a verdade. Os dias foram passando e uma vizinha veio ter comigo e disse-me que o meu namorado que me andava a trair com outra rapariga e que se encontrava sempre com ela durante os treinos de futebol que ele tinha todos os dias. Aquilo me deixou bastante incomodada e me deixou a reflectir que teria que escolher entre os dois, ou o meu atual namorado ou o António. A decisão foi bastante simples e escolhi o António, não só porque era muito mais carinhoso, mas também estava muito ressentida com o meu namorado. Resolvi então por um termo a esta relação que já era de cerca de dois anos e investir no António, mas o meu ex companheiro não aceitou de bom agrado e fez de tudo para me ter de volta, seguia-me, ameaçava que contava ao meu pai tudo que fizemos e até chegava ao cumulo de dormir á minha porta só para eu não ver o António e ai....


E com tanta perseguição do meu ex, o António resolveu pedir-me em casamento e eu aceitei com muito bom agrado, não só porque assim me via livre da clausura que vivia em casa e também das ameaças do ex. Naquela altura fazia todo o sentido com apenas 18 anos me casar. Pensava eu que fiz a escolha certa em sair de casa e ter escolhido o António, mas vim a descobrir que o homem que eu escolhi não era assim tão bom. Os ciúmes eram os demais, em tudo o que fazia havia uma desconfiança e uma traição, mas tinha mesmo que arrecadar com as consequências da minha escolha. Os anos foram passando e cerca de 4 anos depois tive a minha primeira filha, foi com muito agrado para nós e para toda a família e o meu marido transformou-se e tornou-se mais afável e generoso para comigo e para até a minha família. O que é certo é que esta nova "fase" do meu marido, como diz o ditado, foi sol de pouca dura. Já a minha filha teria á volta dos 3 anos e meio quando as provocações voltaram e desta vez passaram a atos, quando eu saía para resolver qualquer assunto, quando voltava era pancada na certa, com uma menina pequenina para criar, tentei aguentar, porque queria que tivesse mãe e pai, mas os dias foram passando e então cometi um...  


Queria que a minha filha tivesse um pai e uma mãe, mas aquela situação era insustentável e uma ai cometi um ato de loucura e sai de casa, coisa que para aquele tempo era de loucos, uma mulher se separar de um homem. Sem tecto para ficar a morar, pensei em ir para casa dos meus país mas perdi logo a ideia porque seria o primeiro sitio onde ele iria me procurar, então fui bater á porta da casa de uns amigos meus e com muito apresso deles me deixaram lá ficar, claro que o meu marido não sabia onde eu estava e nem poderia saber porque, ai estaria tramada Ninguém sabia onde eu estava, nem família nem amigos e muito menos os meus país. Os dias foram passando e o António foi várias vezes a casa destes meus amigos á minha procura o que eles nunca revelavam onde eu estava. Claro que minha filha perguntava por o pai e avós o que respondia que tínhamos viajado e iríamos voltar em breve. Apesar da minha situação estava melhor, eu estava a prejudicar outras pessoas, os meus amigos porque tinham mais uma pessoa em casa, o sofrimento dos meus país e irmãos que não sabiam onde eu estava e também o António que adorava a filha e sei que também a mim. Certo dia resolvi ir visitar meus país, não era longe desta casa onde eu estava e fui a pé, mas a chegar a casa deles o António estava lá e....


Ao chegar a casa dos meus pais, o António estava lá e ai as minhas pernas tremiam, não sentia o corpo, queria fugir e não podia porque ele já me tinha visto, tentei ignora-lo mas foi-me 
impossível, não só porque ele não me deixava indiferente e também porque a minha filha correu para seus braços, ele chorava convulsivamente,  pedindo desculpa em tom de arrependimento.
Aquela situação deixou-me de coração partido, meus pais choravam, minha filha desesperava dizendo: -"Pai volta para casa, pai volta para casa, pai volta para casa..."
Estava derretida com aquela situação, ele olhava para mim, as lágrimas corriam-lhe pelo rosto e com a nossa filha nos braços disse-me: -"Perdoa-me, jamais voltarei a fazer o que fiz."
Naquele momento caiu-me o mundo em cima, por um lado eram aquelas palavras que tanto eu esperava ouvir, mas no fundo não as queria ouvir.
Ele continuava a insistir dizendo: -"Perdoa-me, volta para nossa casa, tu és a mulher da minha vida."
A minha filha continuava chorando, dizendo: -"Mãe vamos para casa, mãe vamos para casa."
Não sabia o que fazer, será que devia seguir para um divórcio e fazer da minha filha uma criança infeliz e crescer sem pai ou eu voltar para casa em prol da felicidade da minha filha?
Aquele momento estava a ser um turbilhão de emoções, teria que decidir de cabeça quente e que falou mais alto o amor de mãe.




Verónica Costa 

1 comentário:

  1. OI DOIDO POR LATAS.BOAAA DE FICHE E PARA RIR ESTA LINDA HISTORIA E PARA UNS EXEMPLOS DOS ANTIGOS IMIGRANTES.PARABENS POR ESTA LINDA CRONICA E PARA VERONICA COSTA.

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