Histórias de outros tempos



Santos Populares 

Na minha época, como hoje em dia, vivia-se muito os santos populares, na minha aldeia toda a gente se juntava para festejar estas datas tão emotivas, nós como crianças adorávamos esta época porque tínhamos mais liberdade para "viver" estas festas. Eu, meus irmãos e colegas fazíamos sempre uma grande festa, tínhamos sempre todos os anos que fazer uma cascata tipo cabana (género de um presépio),que tinha a finalidade de colocar os santos, cada um em seu dia , era sempre feita de carvalho e musgo, estávamos sempre dias e dias a fazê-la e esta cabana durava sempre durante os santos populares, como toda a gente sabia que nós fazia-mos esta cascata, nós íamos pela aldeia pedir dinheiro para ajudar a construí-la e as pessoas davam sempre 1 ou 2 tostões. Como a nossa cascata era bem feita e muito bonita era sempre um sitio que as pessoas gostavam de visitar e até vinha gente de fora para -la. Já com o comer não era o que é hoje, havia na mesma a sardinha, mas em vez de uma pessoa comer 6 ou 7 sardinhas, uma sardinha dava para 3 pessoas! Viva os Santos Populares de hoje em dia.

Uma pequena Historia de outros tempos 
Laurinda Neves


DIA MUNDIAL DA CRIANÇA 

No meu tempo, este dia será que existia? Se existia, não me lembro ou não era festejado, eu talvez vivia numa época que a criança era mais uma peça ou um objecto para o trabalho, comecei a trabalhar muito nova, sem saber o que era ser criança, talvez fosse feliz com aquela vida. Hoje irei fazer esta crónica diferente, dedico o poema abaixo, ás minhas netas, que felizmente vivem de maneira diferente, que eu vivi.

As Crianças

As crianças a brincar  
E eu a olhar,

Sei deixar de pensar
Se iria voltar a ficar igual.


Estão sempre a cantar
E fazem-nos dançar,

São doces e carinhosos
E estão sempre babosos.


São a nossa razão de viver,

Nascem de nós
Tal como os nossos avós.

Eles são o fruto do nosso amor
E não nos deixam dor,

São traquinas e brincalhões
E estão nos nossos corações.


Fofinhos são

Tristes não ficaram,
Com o nosso amor e carinho
Apetece dar mais um beijinho.

Beijos ás minhas netas



O MEU PAI

A minha mãe, pobre coitada era mesmo a desgraçada da casa, ou melhor uma das desgraçadas, porque eu e os meus irmãos também éramos! Não só porque tínhamos que ir para escola mas também porque tínhamos muito que trabalhar, já a minha mãe tinha sempre que fazer de comer  para todos e ainda ir para o campo para os demais afazeres. Já o senhor meu pai, era um "lorde", apesar de ter que trabalhar e muito, tinha uma vida mais regatada e sempre com a roupa e o comer pronta ao agrado dele. Ele andava sempre pelas feiras a vender ou a trocar/comprar gado e pouco parava em casa. Era uma pessoa muito rígida para connosco e com pouco interesse em mostrar os seus afectos. Ele tinha mais vantagens do que nós, tinha sempre direito ao seu café pela manhã e com um belo açúcar, coisa que eu nunca ou raramente tomava, metia-me inveja porque ele tomava e eu e os meus irmãos não!? Ele também não suportava a ideia de nós saímos e não estarmos a horas em casa conto na próxima vez o que nos fazia se não estávamos em casa então cumpríssemos as ordens dadas por ELE.

A PÁSCOA



No meu tempo, a Páscoa não era vivida como é hoje em dia, mas sim de uma maneira diferente. Para a nossa família era sempre uma festa e sempre com muita alegria. O dia de Páscoa para mim era um dos melhores dias do ano, porque o meu padrinho me dava a rosca, porque naquele tempo era mesmo uma rosca que os padrinhos davam aos afilhados, não como hoje em dia,mas a minha rosca não era uma qualquer, era enorme e claro isso metia muita inveja ao meus irmãos porque não recebiam ou se recebiam eram pequenas. Era sempre bom aquele dia, porque nós em vez de comer o famoso caldo pela manhã, comíamos uma deliciosa malga de café com o nosso pão que fazíamos lá em casa. No fim de comer íamos sempre à missa, todos contentes, porque apesar de já termos comido, também íamos todos bem vestidos e com socos novos. No fim da missa vínhamos para casa, para ajudar a nossa mãe a preparar o almoço, como sempre tínhamos muita gente lá em casa para almoçar e como era Páscoa ainda era mais gente. O almoço também era muito mais elaborado e nós podíamos sempre nos deliciar com tanta comida diferente do habitual, principalmente nos doces. No final do almoço arrumávamos a casa e ficávamos à espero do compasso (visita do padre à nossa casa com a cruz). Como era um dia de festa meu pai e minha mãe pouco embirrava connosco e nos deixava "andar". Recordo com muito agrado a Páscoa da minha infância na nossa casa.


MATANÇA DO PORCO

 Como disse na minha anterior historia, hoje vou contar um pouco sobre a nossa matança do porco. Como a família era muito grande a matança do porco era sempre um acontecimento. Meu pai chamava seu irmão e sua família que também eram muitos e minha mãe fazia o mesmo, o facto é que juntava-se cerca de 30 pessoas para o grande dia. O porco era enorme com cerca de 15 arrobas e o meu tio é que era o ás a matá-lo, meus primos e meus irmãos mais velhos agarravam o bicho e meu tio o matava, eu não gostava nada de ver nem ouvir aqueles berros do animal, enquanto meu tio espetava a faca minha mãe aparava o sangue para fazer as chouriças de sangue. Depois de morto o bicho era pendurado num sitio próprio para escorrer todo o sangue. Claro que com tanta gente em casa era uma alegria e muita felicidade para mim e para os meus irmãos porque tinhamos lá os nossos primos para brincar e fazer asneiras.
    No dia seguinte reuniam-se todos outra vez, para agora desfazer o porco, aí tinhas que trabalhar era sempre muita carne e alguma era comida na hora na brasa, os presuntos, as pás e as costelas, essas salgavam-se para depois vender, o resto da carne era para fazer salpicões, chouriças de carne e de sangue. Depois de tudo feito pendurávamos ao fumo, na cozinha tínhamos uma grande lareira onde minha mãe punha o pote com o caldo e punhamos-as lá, para secarem com o fumo.



BONS TEMPOS!!!

    A vida nos meus tempos de juventude não era nada, nada fácil, eu e os meus irmãos passávamos muitas necessidades. Quando nós íamos ao vendeiro (espaço tipo café, mas que vendia também mercearia) ele tinha sempre cascas de queijo em cima do balcão, porque ele vendia sandes de queijo e nós apanhávamos as cascas devagarinho e íamos lá para fora as rapar, muito bom, porque nós em casa não comíamos queijo mas sim pão grosso (pão de lavrador), com cerca de quinze dias. Quando os meus pais coziam pão era sempre cerca de 15 arrobas, era sempre feito 3 em 3 semanas e servia para nos alimentar e ás pessoas que por vezes iam lá a casa. Claro que nós a comer este pão todos os dias, enjoávamos e naturalmente adorávamos o trigo de cantos (pão tradicional de Amarante, também conhecido por trigo de cantos) e nós chamávamos-lhe trigo de queijo. A minha mãe quando ia á feira trazia sempre esse tipo de pão, não para nós, mas sim para o meu pai. Claro que nós tínhamos que comer, porque era bom demais e então  roubávamos á minha mãe o tal pão, claro que a minha mãe descobriu e nunca mais podemos comer esse pão. Meu irmão, que era mesmo traquina, como não podia comer desse pão começou a roubar de vez em quando um salpicão á minha mãe ( fazíamos todos os anos o fumeiro, historia que contarei numa próxima), para o levar para a escola. Chegando á escola ele tocava-o por esse desejado pão! Pensando bem seria um erro, mas garanto que sabia bem melhor o pão, do que o salpicão! 



NUNCA ESQUEÇO 

    A historia que vou contar hoje ficou-me muito marcada e ficará para o resto da vida.
O meu pai que era lavrador, costumava ir para a casa da dona Quininha na época das vessadas, e eu  ficava muito contente porque a casa era de ricos e quando o meu pai ia para lá eu e os meus irmãos íamos para lá também. A casa era perto da nossa e claro tenho várias historias lembro-me que a minha irmã  mais nova costumava roubar ovos á nossa mãe para vender a essa senhora, lembro-me também que quando ela tinha os filhos em casa ou convidados, quase todos os domingos, nós ficávamos á cata deles, porque eles almoçavam e no fim eles comiam bananas e claro botavam as casas janela fora e nos íamos busca-las para as rapar!.A senhora da casa tinha dois netos a viver com ela, a Belinha e o Carlinhos quando íamos para lá brincávamos sempre, mas sempre que ia para lá eu ouvia a senhora a chamar os netos para ir lanchar e comer a sopa, aquilo me deixava triste porque eu nunca tinha comido sopa e ela nunca nos dizia para comer.Os dias foram passando e voltamos lá para casa da senhora. Fomos brincar com os meninos e á hora do almoço a senhora chamou os netos e disse: -Vinde também meus amores. Fiquei muito contente e fui logo para a mesa finalmente ia comer a tal desejada sopa, mas quando vejo as empregadas a trazer a sopa fiquei muito triste e desiludida, afinal sopa é caldo! Claro que aquele caldo era bem melhor do que aquele que comíamos em casa mas afinal sopa é caldo, era tudo a mesma coisa.

   

QUE VIDA!

Boa noite, Neste espaço que a mim foi proposto pela administrador do blog, vou escrever um pouco das minhas historias. Tudo que vou contar aconteceu comigo, são historias verídicas mas de outros tempos.
Nos meus tempos a vida não era fácil, nos dormíamos em camas de madeiras e os colchões eram feitos de colmo (ao sacudir a palha do centeio ficava o colmo), Com apenas 7 anos ás 5 da manhã tinha que estar a pé para sair com o gado para o monte, as oito, oito e meia, eu e o meu irmão regressávamos para ir para a escola e ao chegar a casa comíamos o caldo que esta a aquecer no potinho com o caldo da noite anterior, ou melhor como o meu irmão chamava a lavadura velha (" Lá esta a p*** da lavadura velha a aquecer, para o burro comer para ir para a escola"), no fundo era um caldo preto feito com feijões,couves e agua, e levava uma colher de pingo de porco, era o nosso azeite, nesse momento já a nossa mãe fazia um novo caldo para os trabalhadores que trabalhavam no monte. Cerca das 10 horas eles vinham comer e voltavam pelas 3 da tarde para comer uma cebola com sal e bocado de agua pé, porque o vinho era para vender, raramente eu bebia vinho mas quando tinha gente em casa provava, o meu pai mandava sempre o meu irmão ir buscar o vinho:
- António vai ao vinho, para estes amigos. Ao ir buscar bebíamos e trazia agua pé para eles, e ai o meu pai berrava.-António enganaste-te isto não é vinho! E porrada em cima.



                                                                                                                                    Laurinda Neves

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